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Ia no carro quando ouvi na rádio uma música antiga do Nuno Guerreiro, e imediatamente lembrei-me que houve uma altura na minha vida em que tinha quase todas as canções dele no mp3 e as ouvia religiosamente todos os dias no caminho até a faculdade. E hoje,quando as primeiras batidas da canção ecoaram pelo carro, viajei 7 anos no tempo até essa época...até ele.
Não vou dizer que foi uma linda história de amor, longe disso, é verdade que houve muito carinho envolvido, mas acima de tudo houve muito desejo, muita vontade de ambos os lados. Estar perto dele era uma experiência transcendental, e não querendo entrar em clichés românticos, era como estar no centro da tempestade perfeita - a energia era terrena, palpável.
Embora ele vivesse perfeitamente bem com isso, eu queria mais. Precisava de um compromisso, uma espécie de relação que justificasse aquele desejo absurdo e desenfreado. Durante meses lutei com tudo aquilo que sentia, sempre sem saber bem se devia travar ou deixar-me guiar pelo momento..
Mas eu nunca consegui viver no presente, no agora. E saber| sentir que ele não estava apaixonado por mim falou mais alto: eu não era pessoa para me entregar só porque sim, e apenas por umas noites (mesmo que o quisesse muito). No fim, a imagem que eu tinha construido de mim mesma falou mais alto, e nunca nada aconteceu, como devia ter acontecido.
Nunca fiquei convicta de que havia tomado a decisão certa, mas na altura fiz o que achei mais correto e isso é tudo o que podemos exigir a nós mesmos. Hoje mesmo sabendo que o que havia entre nós era metafísico, carnal, mas igualmente efémero, arrependo-me da decisão que tomei.
Se hoje, esta canção me tivesse feito mesmo recuar no tempo, sei que o desfecho seria diferente: teria me entregado (como sempre quis) sem julgamentos e sem certezas, ou até mesmo na certeza de que teríamos só aquele momento para matar o nosso desejo.
A verdade, é que os anos passaram e a minha vida mudou mais do que eu poderia imaginar, mas aquele sentimento avassalador de trocar a minha vida por um toque, um beijo, uma única noite,nunca mais regressou.
Aquela música fez-me perceber que ainda não aprendi a viver no momento, no aqui e agora, e que continuo presa à (nova) imagem que criei para mim mesma, e talvez por isso tenha desejado tanto voltar atrás no tempo e reescrever uma velha história. E perante a impossibilidade física de o fazer, resta-me escreve-la aqui.
S.